O PROJETO

Havia que encontrar um nome para este projeto. Tal como nós, há projetos que dele necessitam e este era um desses casos. Porque o queríamos de todos, porque o projeto traduz aquilo de que somos feitos, a nossa essência, a nossa história, o nosso saber, as nossas tradições, os pequenos nadas que nos constroem, aquilo que temos de mais perene: o nosso passado e o respeito sentido por esse legado. E porque os nomes que escolhemos para os nossos refletem o que por eles sentimos, entendemos, então, que tudo se resumia a uma pequena palavra: HEREDITAS e que mais não significa que herança, em latim, aquela que foi a nossa língua por centenas de anos e que foi também uma língua franca, ou seja, uma língua que foi comum a vários povos (portugueses, espanhóis, franceses, italianos, etc) e, portanto, herança de muitos.

E é este o nome que devemos guardar na memória, porque o queremos parte do nosso quotidiano: HEREDITAS.

Este projeto surge com uma missão desde sempre muito clara: a de criar um repositório dos bens culturais do concelho, que tanto significam para nós e que têm andado dispersos por arquivos e bibliotecas, em locais do concelho que muitos desconhecem ou para os quais olhamos distraidamente, e não poucos, em risco de se extinguirem com os seus últimos guardiões (como é o caso das tradições orais).

Para um território que conhece ocupação desde a pré-história e onde ainda encontramos testemunhos desta época, já não é suficiente o natural orgulho que todos sentimos por termos um Centro Histórico inscrito na Lista da UNESCO como Património da Humanidade. Queremos e podemos ter mais, muito mais, porque somos ainda maiores, incomparável e incontornavelmente maiores. E queremos sê-lo com a determinação, empenho e qualidade que sempre pusemos no que fizemos: fundámos uma nação, construímos um país.

Termos por nosso o que nos foi legado pelos nossos, é um sentimento que ocupa um lugar especialmente privilegiado nas emoções de cada um e que exige ser tratado como tal.

Todo esse património, construído, natural e imaterial que perpassa vários séculos, exige um tratamento de excelência: uma equipa técnica, tão transdisciplinar quanto as circunstâncias o permitiram e cientificamente assessorada por professores universitários, com vastos curriculae nas áreas em causa e efetivo trabalho nos Centros de Estudos das Faculdades nas quais exercem docência, numa partilha de conhecimentos e saberes que o inventário exige, trabalhou afincadamente durante dois anos para este projeto.

Impossível de balizar no tempo, face ao interminável manancial de informação a recolher e trabalhar e às contingências de toda uma nova realidade que nos foi dada a conhecer e que nos compele à criação de soluções que viabilizem a efetiva participação de todos, de forma consistente, criteriosa e cientificamente rigorosa, o tempo do projeto permitiu já a convicção do enorme recurso que será para a Cultura e para o Turismo, acreditando poder vir a alcançar resultados nunca antes imaginados no concelho.

Entendemos iniciado o caminho para que o Hereditas prossiga o seu propósito, e venha a contar com outros tantos olhares e contributos, que se complementam e afluem para a consolidação do saber, como a antropologia, a sociologia, a geografia e tantos outros mas, sobretudo, com o das suas gentes e dos seus inúmeros investigadores locais.

Estarão, assim, indubitavelmente reunidas as condições para uma intervenção mais fundamentada, célere e capaz, num património que é de todos e de todos deve merecer um tratamento de excelência, através da veiculação pública daquele que, conhecendo a sua continuidade tal como foi concebido, se poderá vir a constituir como o maior “Centro Interpretativo da Paisagem Cultural” de um concelho, registado até à data em Portugal.